
Afasto seu braço e me sento para olhar pra ele. Meu pai tem cheiro de fumaça e cerveja choca, e parece mais velho do que na minha lembrança. Posso ouvir seu coração, também, coisa que não acho que deveria acontecer.
- Que droga você está fazendo?
- Você nunca conversa comigo, Tess.
- E você acha que isso vai ajudar?
Ele dá de ombros.
- Talvez.
- Você gostaria que eu entrasse na sua cama quando você estivesse dormindo?
- Você sempre entrava quando era pequena. Dizia que era injusto ter que dormir sozinha. Toda noite, eu e mamãe deixávamos você entrar porque você estava se sentindo sozinha.
Tenho certeza de que não é verdade porque não me lembro. Talvez ele tenha enlouquecido.
- Bom, se você não vai sair da minha cama, saio eu.
- Ótimo – diz ele. – Eu quero que você saia.
- E você vai simplesmente ficar aí, é?
Ele sorri e se aninha debaixo do edredom.
- Está quentinho, uma delícia.
Sinto as pernas fracas. Não comi muito na véspera e isso parece ter me deixado transparente. Seguro o dossel da cama, cambaleio até a janela e olho lá para fora. Ainda está cedo: a lua se apaga em um céu cinza-claro.
- Faz um tempo que você não vê a Zoey – diz papai.
- É.
- O que aconteceu naquela noite em que vocês duas saíram para dançar? Vocês brigaram?
No jardim lá embaixo, a bola de futebol cor de laranja de Cal parece um planeta murcho sobre a grama e, na casa vizinha, vejo novamente aquele menino. Pressiono as palmas das mãos na vidraça. Todo dia de manhã ele está no jardim fazendo alguma coisa – varrendo, cavando ou andando de um lado para o outro. Agora está arrancando galhos secos da cerca e empilhando-os para fazer uma fogueira.
- Você ouviu o que eu disse, Tess?
- Ouvi, mas estou te ignorando.
- Talvez fosse bom você pensar em voltar para o colégio. Assim poderia encontrar alguns dos seus outros amigos.
Viro-me para olhar para ele.
- Eu não tenho nenhum outro amigo. E, antes de você sugerir isso, também não quero arrumar nenhum. Não estou interessada em gente curiosa e mórbida que só quer me conhecer pra poder receber pêsames no meu enterro.
Ele da um suspiro, puxa o edredom até junto o queixo e sacode a cabeça para mim.
- Você não deveria falar assim. Cinismo não te faz bem.
- Você leu isso em algum lugar?
- O otimismo fortalece o sistema imunológico.
- Então é culpa minha eu estar doente, é isso?
- Você sabe que eu não acho isso.
- Bom, você sempre age como se tudo que eu faço estivesse errado.
Ele se esforça para se levantar.
- Não ajo, não!
- Age, sim. Como se eu não estivesse morrendo do jeito certo. Vive entrando no meu quarto e me dizendo pra eu sair da cama ou pra não desmoronar. Agora vem me dizer pra voltar pro colégio. Que ridículo!
Atravesso o quarto pisando firme, pego seus chinelos e os calço. São grandes demais para mim, mas nem ligo. Papai se apóia nos cotovelos para me olhar. Pela sua cara, parece até que eu bati nele.
- Não vai embora. Pra onde você está indo?
- Pra longe de você.
Sinto prazer em bater a porta. Ele que fique com a minha cama. Não estou nem aí. Pode ficar lá deitado até apodrecer.
Compre: Saraiva
Esse livro é lindo! E é impossível não gostar da Tessa ou não se apaixonar pelo Adam. E o final.. cheguei até a me arrepiar quando li D:
ResponderExcluirEu me desanimei sobre ler o livro, pois achei o filme muito chato.
ExcluirLi resenhas elogiando e outras detonando este livro, só lendo mesmo para ter uma opinião mais concreta.
ExcluirSó com um trecho assim é difícil tirar conclusões.
Não desanime... Leia!!!
Adorei esse trecho, apesar de não conhecer o livro, mas me interessei por ele agora quero ler o resto.
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